terça-feira, 27 de abril de 2010

Língüa, gostosa herança.


A língua é nossa pátria, é o que nos singulariza neste imenso mundo, e se os holandeses e ingleses se referiam aos portugueses como licensiosos e lascivos, é deles - homens que atendiam ao clamor de seu sangue que mistura saudade e paixão -  que herdamos essa maravilha que falamos, e que nesta terra adquiriu contornos tão bonitos.

Quando Portugal se lançou aos mares, sem querer se tornou uma nação de homens atlânticos, homens marinhos e que como a lenda dos botos amazônicos, viam nas terras que encontravam não apenas riquezas a explorar, mas belezas a desfrutar, corpos a conquistar e aos quais misturar o seu sangue, pois se cor não pega, ela passa, numa intensa mistura de tantos matizes quantas são as paixões humanas.

E também assim a língüa portuguesa alcançou o mundo, com luxúria e fervor, se trançando como num beijo com as língüas de tantas terras e tantos povos, se permitindo ser marcada por aqueles que ela marcava, bocas que se chocavam, ora em carícia mansa, ora em forte imposição de gostos e paixões. A língüa portuguesa lambeu as praias brasileiras e as costas africanas, correu os rios e as matas e se impregnou de sabores e delícias que nunca mais deixou sair de si, ganhou ares e sotaques e no Brasil se fez velha criança, prenhe de cadências e malícias, de andares e movimentos graciosos como os da capoeira. Língüa genésica, língua macho e fêmea na cama dos tempos.

Hoje me dou o prazer de celebrar essa língua na qual expresso a minha individualidade, o meu ser e estar no mundo, o meu sentir e amar. Minha língua é minha pátria, minha terra é onde lanço as raízes do meu viver. Amemos e valorizemos como pudermos essa deliciosa herança.



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