terça-feira, 18 de maio de 2010

Os judeus desta terra

O Brasil foi uma empresa. Sim, nada mais do que isso. Se observarmos os primeiros relatos acerca das terras descobertas ao Rei de Portugal, não veremos menção a metais preciosos, o que desvalorizava e muito essa nova possessão ultramarina. Também não havia por essas plagas nenhuma cultura vegetal já valorizada na Europa, e nenhum povo com o qual comerciar. Não era Portugal àquela época uma nação realmente colonizadora no sentido de exportar o seu modo de viver, seu povo, para o resto do mundo, estabelecendo pequenos portugais pelo mundo, mas antes uma nação mercantil, cujas possessões ultramarinas deveriam ter o caráter de grandes entrepostos comerciais: foi assim em Goa, foi assim em Macau, e as grandes possessões africanas de Moçambique e Angola inicialmente se deram mediante trato com governantes locais durante o período de intenso comércio de escravos.


A empresa brasileira era um investimento de risco, em grandes terras a desbravar literalmente, povoada por índios cuja língüa não era conhecida pelo povo cristão, com espécies vegetais desconhecidas, com geografia e clima a ser estudados, não como expedições científicas, mas no peito e na raça mesmo. Sem os empresários do império, estas terras seriam perdidas para outros aventureiros. Os que melhor poderiam investir nessas terras eram justamente os cristãos-novos, e os marranos.

No afã de expulsar os judeus de seu território, muitos judeus sefaradi da Espanha se refugiam em portugal, outros, cristianizados, os chamados marranos, também tomam o mesmo caminho. Outros migram para os países mouros e para a Síria, estabelecendo uma próspera colônia na cidade de Aleppo. Infelizmente, o rei de Portugal se casa com uma princesa Espanhola, e para agradar ao hiper cristianismo espanhol, declara o judaísmo ilegal na terrinha. Ao contrário dos galegos, Portugal simplesmente converte à força os judeus, tornando-os "cristãos-novos", e por uma razão muito simples: impedir a evasão de recursos pertencentes às famílias judias do território português. Nada muito nobre, não é?

Apenas mais tarde os tribunais do Santo Ofício entram em Portugal e bem mais tarde estabelecem visitações ao Brasil, para fiscalizar esses novos cristãos...

Diversas atividades eram vedadas aos cristãos, tais como a usura (empréstimo a juros que era usado para financiar navegações, colheitas, etc), a atividade bancária, certas práticas médicas, etc. E há muito os judeus tinham adentrado certas profissões em Portugal, como o serviço público, a advocacia, a medicina, a engenharia, a farmácia, etc. Uma sangria nessas áreas seria terrível para a coroa.

Eis que a nova terra se tornou uma perspectiva de vida nova para este povo, com menos restrições impostas pela Coroa Portuguesa. Como mestres engenheiros, mecânicos, agrônomos, etc, e além de pessoas com recursos, seriam perfeitos donatários nessas terras. E assim o foram. Os primeiros assentados neste país foram cristãos novos, e foram fundamentais para a cultura da cana-de-açucar como grande ciclo econômico, e força motriz do desenvolvimento agrário em vastas áreas do país, notadamente pernambuco, bahia, Rio de Janeiro, e na província vicentina.

Somos um país que veio de uma primeira empresa de assentamento judaico, como forma que eles tiveram de ganhar a vida numa terra teoricamente mais livre, e onde eles aos poucos se assimilaram. Hoje nós somos de um jeito ou de outro um bocado cristãos-novos, de sorte que não há como nutrirmos preconceitos contra nossos compatriotas sefarditas, pois, escavucando nosso genoma poderemos achar um traço semita ali, denunciando nossa mistura mosaica.

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